Pés no chão

É uma necessidade minha criar. Eu ando pelas ruas e fico olhando desde saias que as velhinhas bem velhinhas mesmo estão usando, até combinações extravagantes, mas que no fundo tem sua história ou não necessariamente. O que quero dizer é que para mim é fácil enxergar através das cores que as pessoas usam, suas manias e estilos de vida. É claro que às vezes é bem superficial essa análise e de pouca importância. Eu não as julgo, eu diria que é um tipo de admiração que me envolve quando percebo que aquela velhinha é uma bisavó maravilhosa e que ainda cozinha muito bem. Às vezes, eu tenho oportunidade de olhar nos olhos dessas pessoas e se recíproco a admiração, logo surge um sorriso tímido de ambos os lados.

Estamos com uma visita maravilhosa em casa e o levamos no Gerônimo nesta terça-feira. O cantor falava em uma lingua que não conheço, chamada pajuba e talvez cantava a história do seu povo. Eu não sei, mas sei que existia ali, um envolvimento entre as pessoas. Sou uma observadora nata, porém discreta e ali no meio da multidão, onde foi gravado O Pagador de Promessas, pude ver muitas pessoas de boa vontade. Pessoas que criam ou amantes da arte. É impressionante a beleza da diversidade. Eu me sinto sortuda por ter uma memória fotográfica, pois enquanto escrevo, vejo tudo.

Vi lindas baianas com seus lenços nos cabelos e seus corpos que mostram a história de uma raça forte. Lá haviam pessoas de vários cantos do mundo e cada qual com sua beleza extraordinária. E suas vestes mostrando que elas também valorizam e produzem suas "necessidades". E ali, entre uma canção e outra, fui embalada pela beleza da arte, arte da música, de gente que ainda acredita e admira pessoas, como eu, e que fica com os olhos marejados de emoção.

E nesses momentos eu cravo meus pés no chão, só para não esquecer do caminho que ainda quero trilhar.