Desde que eu vi o show da Björk em outubro do ano passado eu declarei independência para muita coisa em minha vida. Talvez pela eloqüência com que a música se impôs no show eu fiquei realmente tocado com a questão. Apesar de saber que ela fez a música por um problema diferente (independência da Groelândia), eu tenho pensado em como nós podemos nos tornar pessoas melhores declarando independência para certas coisas. Na Revista Veja da última semana, a reportagem principal fala da classe C brasileira que se tornou a maior e, por causa disso, o crescimento econômico do país está nas mãos dela. Porém o crescimento econômico só acontece quando o dinheiro gira e o Brasil mostra lá fora que as empresas podem trazer seus produtos para cá porque sempre vai ter alguém que vai comprar. O PIB aumenta, a renda fica melhor distribuída e as pessoas...consomem e consomem e consomem até não poderem mais. Os grandes símbolos do consumismo na sociedade brasileira, na minha visão, são ainda, o carro, a TV e, o mais novo deles, o tocador de MP3 daquela marca que vocês sabem bem. O carro te dá várias vantagens. Concordo. Mas, o governo não se comprometeu a reduzir a emissão de monóxido de carbono na atmosfera até 2025 em 25% pelo menos? Como isso irá acontecer se – pelo menos aqui em Salvador – 1200 carros novos são lançados pelas ruas?
A TV, a grande rainha da casa brasileira, sempre se renova nos lares. Em favelas, se vê a falta de tudo, menos da tela azul pulsante. As pessoas podem deixar de sair, ver os amigos, arrumar suas metades de laranja perdidas, mas não perdem o BBB. Em época de copa do mundo todo mundo compra uma TV maior pra poder ‘ver melhor’ cada lance. Quem não tem TV em casa é um alienígena. Quem não assiste é desinformado. Se o tempo gasto na frente dela fosse gasto com um livro qualquer na mão, nossa sociedade seria um pouco diferente... e melhor.
O tocador de MP3 daquela marca que vocês sabem é o mais novo símbolo de que além da pessoa ter uma tv, carro, ela tem que, culturalmente, se inserir no grupo daqueles que dominam as novas tecnologias domésticas e ainda carregam consigo seu gosto musical, etc. Podem propagar e provar ali mesmo aquilo que gostam. No meu último ensaio com a Cangaço, eu toquei bateria e cantei. Fazia tempo que eu não fazia isso. A sensação de tocar um instrumento e cantar uma música que você gosta substitui e mostra mais que seu gosto musical. Mostra quem você é. É bem mais gostoso fazer algo pra se tocar no MP3 player que apenas tê-lo.
Eu podia ter feito outras estampas (tem o celular, por exemplo). Mas fiquei com essas porque são mais significativas, creio eu. Obrigado Bjork.
Raise your Flag!
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